30 novembro 2009

trabalho de aluno: artigo do Carlos Vinícius (Buda)

Carlos Vinícius de Souza Fontes
Artigo

A relação entre a arquitetura e o mundo digital

A computação revolucionou o mundo. Isso todo mundo já sabe.
Novos meios de comunicação e interação foram criados; metodologias ampliadas e qualificadas, milhares de portas foram abertas; uma interface multifuncional de desenvolvimento cultural e educacional deixando qualquer mero cidadão interligado com todo o resto do mundo com o clicar de um botão. Podemos até dizer a respeito de uma era AC/DC (Antes da Computação/Depois da Computação).
Contudo a questão a discutir é como essa revolução virtual está relacionada com a evolução arquitetônica e qual o seu significado na atualidade, positivo ou negativamente.
Há pouco tempo atrás, debruçado sobre uma prancheta, um bom desenho técnico reforçado por nankins de varias penas, ou croquis e rabiscos representativos no tradicional lápis macio eram essenciais para o entendimento de um projeto arquitetônico. Hoje em dia a arquitetura digital basicamente extinguiu essas necessidades, impondo uma visualização e percepção de espaço (virtual) muito mais ampla.
A autora Ana Paula Baltazar, arquiteta formada pela UFMG, escreve sobre a arquitetura atual e o paradigma computacional, deixando claro que estas questões em arquitetura não podem ser dirigidas apenas em termos de futuro, mas já estão estabelecidas na realidade da prática arquitetônica e produção do espaço.

“...é possível avaliar a arquitetura atual sem estabelecê-la como uma tendência futura, mas entendendo-a como o começo de um novo paradigma cuja seqüência não é linear, ou seja, o paradigma computacional não pretende uma fixação espaço-temporal como o perspectívico, ao contrário, o novo paradigma é baseado na velocidade (dinâmica espaço-temporal) e possibilidade de mudança. A avaliação da arquitetura atual não pode estar presa a relação espaço-tempo, mas a tempo-comportamento, que é uma relação de transformação contínua onde material e não-material se influenciam simultaneamente.”

Outra autora, Regiane Trevisan Pupo, mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina escreve sobre um workshop que o professor Loukas Nicholas Kalisperis, do curso de Arquitetura da Pennsylvania State University – USA, realizou em 2006 na Universidade Federal da Bahia, fazendo uma concepção da arquitetura em ambiente computacional. Segundo ele nas fases iniciais de projeto, o que importa é a forma da intenção, e que se defina por si mesma, como conceito, sem medidas ou escala. A utilização da tridimensionalidade, segundo o professor, permite um maior entendimento do espaço entre altura x profundidade x massa, nos quais, juntos, resultam na forma, permitindo o entendimento de diferentes componentes. Kalisperis acha extremamente necessário a utilização da computação mais sem perder a idéia da representação manual, mas também salienta que “os computadores deveriam ser utilizados para esboços, exploração e geração de formas e não para simples representação e documentação”.
“... é extremamente coerente que os laboratórios de computação para arquitetura, especialmente na educação, sejam compostos de ambientes com uma relação simbiônica – uma associação e entendimento entre o homem e a máquina. Kalisperis ironiza que “os laboratórios de computação gráfica são um mal necessário”. Como a própria arquitetura, os laboratórios de CAD são argumentação e produção. Os estudantes devem desenvolver seus projetos onde possam acomodar computador (meio digital), papel (meio tradicional) e maquetes físicas. E completa que, simultaneamente, qualquer que seja o software utilizado para projeto de arquitetura, deveria lidar com a tectônica: Modelagem x Esboço / Físico x Virtual”.
Um bom exemplo dessa mentalidade arquitetônica conformista são as maquetes eletrônicas de uma casa, onde o usuário tem a experiência de estar visitando virtualmente esse espaço forçando uma intenção de sensações geradas pelo produto digital-final. O problema maior dessa conformidade é que este processo de utilização das ferramentas para usos na arquitetura é tracionado pela necessidade que o arquiteto tem, hoje, de está inserido no mercado de trabalho onde também pode ser entrelaçado à doença do chamado “falta de tempo”.
Uma maquete eletrônica ou um desenho técnico em computador torna a representação e a realização de um projeto muito mais rápida e eficiente, porém pode perder em sensibilidade e preocupação com grande parte dos elementos necessários para uma arquitetura efetiva.
Helio Piñón (Onda, Espanha) arquiteto e doutor em Arquitetura pela ETSAB-UPC, apresenta sua opinião, descrevendo sincero apego ainda ao desenho manual, mais que os benefícios propiciados pela virtualização arquitetônica são de fato compensatórios.

“Esboçarei aqui os motivos do meu entusiasmo pela tecnologia digital e para isso me concentrarei em três aspectos em que sua contribuição tem sido fundamental: por um lado, os programas de CAD são um meio de representação muito preciso ainda que - pelo que vejo - o seu uso seja difícil e esteja mais orientado à razão do que aos sentidos, o que não é um bom presságio, tratando-se de um instrumento da arquitetura. Dir-se-ia que esses programas são mais adequados à mentalidade mecânica de um escriturário que ao espírito ordenador e sensível de um arquiteto. De qualquer modo, se conseguimos superar as dificuldades operativas - o que não é um obstáculo irrelevante para aqueles cujo propósito transcende o instrumento-, obtemos um privilégio que até pouco só estava ao alcance dos deuses: ter uma visão simultânea do projeto, isto é, poder passar da escala 1:1 à 1:100 com um leve gesto de um dedo da mão com a qual manejamos o mouse.”

“Em segundo lugar, tais programas de desenho permitem elaborar - ou extrair de catálogos e bibliotecas técnicas - elementos arquitetônicos concretos - tijolos, perfis metálicos, perfis de esquadrias, entre outros -, o que libera a representação da tirania da linha: no limite, um bom desenho de computador não deveria ter linhas, senão articular elementos pré-definidos nos quais a linha é só a convenção que - ao envolvê-los - determina sua identidade.”
São vários os exemplos que, atualmente, essa metamorfose impactante que penetra na metrópole, já podem ser integrados à rotina urbana.
A Bolsa de Valores de Nova Iorque (The New York Stock Exchange - NYSE) integrou em 1999 seu banco de dados em um sistema informatizado dinâmico. A idéia era criar um espaço cibernético onde seus acionistas poderiam navegar na bolsa, tendo todo tipo de informação possível relacionado rápido e fácil de usar.
No processo de desenvolvimento do design e projeto do sistema de intercâmbio virtual, a NYSE contratou uma firma de arquitetura de Nova Iorque, a Asymptote. Esta empresa foi fundada em 1989 por Hani Rashid e Lise Anne Couture, e é bem conhecida nos meios da arquitetura nas competições e apresentações que exploram a relação entre o mundo digital e físico. Esse projeto significava para a Asymptote, uma oportunidade única para construir o que eles já tinham experimentado por quase uma década.
A intensidade de uma Bolsa de Valores devia ser expressada na representação virtual a fim de ser facilmente compreendida pelos usuários, principalmente sendo a NYSE, uma das bolsas de valores mais importantes do mundo.
A concepção do espaço virtual "tinha que ser um reflexo da intensidade e da linguagem arquitetônica da NYSE hoje.”, disse Rashid. Assim foi criado a 3-D Trading Floor (3DTF), um espaço cibernético interativo todo projetado para atender as necessidades da NYSE. "Abordamos o trabalho como se fosse um projeto arquitetônico tradicional", disse Hani Rashid e Lise Anne Couture em uma entrevista no MoMA (Museu de Arte Moderna de NY).
O totalmente interativo 3-D Trading Floor (3DTF) consolidou vários fluxos de dados. Nas paredes do tal mundo virtual, apareciam os preços das ações, notícias, índices e vídeo ao vivo das grandes redes de televisão, que são constantemente transmitidas em tempo real. No chão do 3DTF estandes comerciais são dispostos como estão na disposição real, para melhor facilidade de entendimento dos usuários, sendo possível manipular até mesmo replays imediatos para a análise rápida das atividades que ocorrem no intercâmbio durante o dia.
A 3DTF permite aos usuários, acesso a muitos tipos de informação em tempo real, algo impossível de se fazer no espaço real ou com bases de dados atuais.
"A idéia era criar um ambiente visual através do qual os operadores podem navegar, analisar e agir em um relance de ações. O mercado é muito dinâmico", expressou o arquiteto. No final, os arquitetos da Asymptote demonstram grandes esperanças para o futuro papel da arquitetura no ciberespaço. Eles pensam que o comércio possui tendências atuais maçantes para a Internet e a tecnologia atual.
Dito isto, não é necessário insistir que a grande contribuição da tecnologia digital ao projeto de arquitetura permanece praticamente hipnotizada pelas vantagens operativas do computador e pelo seu “fator estimulante da fantasia”, seja ele qual for. São diversos os impactos que já podem ser notados na arquitetura, desde o surgimento de novas tipologias de edifícios, como as Coffee Houses e Lan Houses; as alterações em um processo de design e produção do espaço, até também impactos pouco mais sutis, mas muitos significativos como a descentralização de atividades cotidianas como o trabalho, a socialização e até métodos de lazer.






as imagens não referenciadas podem ser pesquisadas de forma reversa por aqui:
http://www.tineye.com/

2 comentários:

Alberto disse...

1. Acho que essa discussão foca ainda muito o meio de produção e pouc a interface. Como apresentar a produção digital? Imagens paradas? Filmes? Interativo?

2. Se os arquitetos desenhasse como o Jacobi (autor do croquis do prédio - aliás, essa é uma versão intermdiaria - acho que as maquetes paradas 3D teriam morrido no parto.

3. Gegeca, cê já tá linkado lá! Apareça.

Fernando Tasca disse...

Ainda bem que você colocou o "buda"